quinta-feira, agosto 31, 2006

REFLEXÕES SOBRE O CAOS DO FUTEBOL PORTUGUÊS

Inevitavelmente, ia escrever hoje algo sobre o caos em que está o nosso futebol, e mais concretamente sobre o misterioso (?) silêncio a que se tem remetido o Sr. Hermínio Loureiro, presidente eleito e não empossado da Liga de Clubes.

Entretanto, li n’”A Bola” a crónica sobre o mesmo tema de Leonor Pinhão, e já lá está quase tudo.

Acrescentaria apenas algumas achegas e uma hipótese inquietante, aliás, duas.

Primeiro as achegas. Que diabo anda a fazer o Sr. Hermínio? Nesta altura, já deveria pelo menos ter vindo a terreiro exigir a tomada de posse dos órgão sociais eleitos e aos quais deveria presidir, para tomar entre mãos o “Caso Mateus” (ou seja, exigir o rápido julgamento da providência cautelar do Nacional para permitir a tomada de posse). E o Sr. Valentim Loureiro ficava no seu cargo de Presidente da AG, com o qual o desaparecido Hermínio lhe comprou o apoio, a complacência, e sabe-se lá mais o quê…

Parece que quem tinha razão sobre o inefável Hermíno era mesmo o presidente do Benfica. O incrível Hermínio, pela amostra junta, é mesmo um banana sem ideias nem iniciativa, um pau-mandado, e alguém totalmente desprovido do que é popularmente conhecido pelo nome de um popular legume muito usado em saladas e numa batalha campal anual que se realiza em Espanha.

Agora as hipóteses inquietantes:

Hip. 1: Será que o inacreditável Hermínio arranjou com o seu antecessor esta embrulhada do adiamento da tomada de posse para evitar precisamente iniciar o mandato com a resolução da trapalhada Mateus (não rosé), em vez de ter a vida tranquila que seguramente antevia?

Hip. 2: Será que o Loureiro actual, chateado com a vida que leva e com o seu afastamento da presidência daquela coisa que rege o futebol profissional, resolveu cair mas arrastar consigo na queda o próprio futebol português, levando-o para uma situação insustentável, quiçá com a intenção de renascer mais tarde das cinzas como salvador da Pátria?

E já agora, para acabar; que faz o Governo? Nem uma palavra do Secretário de Estado do Desporto e do próprio PM, tão lestos a aparecer no Mundial ao lado dos craques, numa altura em que o futebol português enfrenta a possibilidade de uma situação muito grave a nível internacional. É extraordinário!

NOTA ADICIONAL A 1 DE SETEMBRO: Já depois de publicar o meu post, li que o Secretário de Estado chamou os presidentes da FPF e Liga. Louvo a atitude, embora ache que devia ter sido tomada mais cedo; e espero que seja sinal de que o Governo está pronto a intervir caso as coisas dêem para o torto.

NOVA NOTA: A FPF anunciou ir resolver o caso, após a reunião com o Secretário de Estado. O meu aplauso quer ao governante quer a Madaíl.

quarta-feira, agosto 30, 2006

GUNTER GRASS

Tenho acompanhado com alguma perplexidade a polémica em torno de Gunter Grass e da revelação por este feita do seu passado nas SS.

Confesso que não percebo muito bem a razão de tanto escândalo, que aliás aparentemente benefecia acima de tudo as vendas da sua anunciada autobiografia, ou seja, a conta bancária de Grass e dos seus editores, o alemão e os das futuras traduções.

OK, Grass esteve nas SS. Quando tinha 17 anos. Quando o seu país estava em ruínas e já era evidente para todos que ia perder a guerra e com custos altos e dolorosos; quem na altura se lembrava ainda das consequências da derrota na 1ª Grande Guerra esperaria concerteza o pior, muito pior do que o que efectivamente acabaria por acontecer (mérito dos vencedores, que pareceram ter aprendido a lição).

A mim parece-me uma reacção normal, ou pelo menos possível e explicável, num rapaz de 17 anos perante aquela situação. O patriotismo tem uma aura romântica, sobretudo quando a Pátria está em real perigo, e se tem 17 anos. Quantos de nós subscreveriam tudo o que fizeram, disseram e pensaram aos 17 anos? Quantos de nós fariam o mesmo que Grass na mesma situação? Não nos ensinam a todos desde pequenos a amar a Pátria e a defendê-la? Alguém alguma vez foi ensinado a condicionar esse amor ao regime político vigente?

Dirão alguns que possivelmente teria sido aceitável se, como outros, se tivesse alistado no exército regular. Mas nas SS? Inaceitável. Pessoalmente, não vejo distinção, ou melhor, não vejo que alguém que se vai alistar naquele momento tenha a percepção que nós hoje temos da distinção que efectivamente existe. Para um rapaz de 17 anos desejoso de contribuir para a defesa do seu país, as SS significavam possivelmente apenas a tropa de elite, a melhor unidade possível para se estar.

Um dos argumentos esgrimidos contra Grass é de que esta revelação veio demasiado tarde. Mas quando é que seria “suficientemente cedo”? Quando começou a escrever? Ninguém se importaria porque ninguém o conhecia. Quando começou a ser conhecido, pela sua obra e pela sua intervenção política? Seria imediatamente aproveitado para o destruir, e com isso impedir tudo aquilo que veio depois.

Acho precisamente o contrário. Grass fez o seu percurso, que teve a importância que lhe é reconhecida por muitos. Ao fazer a revelação agora, precisamente agora, com o todo o peso do seu passado por trás, Grass possibilita que quem quiser possa separar as águas e manter a mesma admiração ou rejeição que antes tinha, apesar do facto agora revelado. E, não sei se conscientemente ou não, chama a atenção para a fragilidade e vulnerabilidade de todo o ser humano, para a possibilidade de qualquer um de nós reagir de forma inesperada a circunstâncias extremas. E para a capacidade que também temos, se tivermos oportunidade para tal, de superar essas circunstâncias e seguir um caminho diferente daquele que parecia definido.

A obra e o percurso pessoal e político de Grass, desde que se tornou figura pública e intelectual reconhecido, eis o que me interessa. O resto é, “apenas”, um doloroso detalhe. Sobretudo para ele.

DECLARAÇÃO DE INTENÇÕES

Eu, Artur Hermenegildo de meu nome, ilustre desconhecido para todos aqueles que não me conhecem (ou seja, a quase totalidade da população do globo), lancei um blog, este blog, e este é o meu primeiro post.

Sem originalidade, e como toda a gente que tem blogs, vou tratar no meu dos temas que desde há muito são meu foco de interesse. Os principais são o Cinema, a Política e o Desporto. Também aqui terão lugar a Literatura, a Música, a Economia, a Televisão, o Vinho, e alguns temas avulso que agora não consigo antever.

Para que não haja equívocos, declaro desde já os meus pontos de vista em cada um dos temas acima referidos.

Em Política, será uma perspectiva de Esquerda. Defendo um Estado e um Sistema cuja principal preocupação seja o bem-estar das pessoas comuns, a igualdade de oportunidades, a recompensa do mérito e da competência contra o falso elitismo do berço ou do dinheiro, a defesa dos mais fracos, o garante da satisfação das necessidades básicas para todos os cidadãos (eu sei, nada disto é novo, mas acho que devo dizê-lo agora). Defendo a Democracia, como regime garante da Liberdade, mas não o Parlamentarismo, cuja afirmação como única concretização possível do regime democrático me parece um dos grandes embustes dos últimos dois séculos e picos. E admito a existência de qualidades defensáveis em alguns regimes não democráticos.

Em Cinema, sou Hitchcock-Hawksiano, como aliás já os mais avisados terão percebido do próprio nome do blog. Esses perceberão o que quero dizer com esta declaração de fé. Para os outros, peço desculpa, mas não vou explicar.

Em Desporto, sou do Benfica. Fanático. Sectário. Até morrer. E não peço desculpa.

Espero conseguir transmitir nos meus posts o que me vai na mente e na alma. Serei sincero nas opiniões que exprimir, mas não pretendo ser detentor de nenhuma verdade. Porque só os anjos têm asas, mesmo que não tenham sexo.