Henry King
Começou na 6ª feira passada na Cinemateca o ciclo dedicado ao realizador Henry King. Finalmente consegui ver em sala “The Gunfighter”, por muitos considerado a sua obra-prima e que só tinha visto em televisão.
The Gunfighter é de facto uma obra-prima, e Gregory Peck tem uma das melhores interpretações da sua carreira, mesmo ostentando um bigode que lhe modifica propositadamente a imagem de galã e que só existe por vontade de King contra tudo e todos, incluindo Peck e o produtor. O filme é um melodrama disfarçado de western, ou um western com alma de melodrama, não sei bem. O começo é clássico no western; o cavaleiro solitário, a chegada à cidade, o saloon, o duelo , a morte do seu desafiador, a perseguição pelos irmãos. Mas depois Ringo dirige-se a outra cidade, para reencontrar a mulher e o filho, no que é quase uma antítese do regresso de Ulisses a Ítaca. Ao contrário de Ulisses, que esconde quem é para melhor se vingar, Ringo revela imediatamente a sua verdadeira identidade, e é a mulher que, amando-o, primeiro se recusa a vê-lo; e quando finalmente cede, a efémera promessa de futuro é cortada pela morte anunciada de Ringo. Não é Ulisses que mata os pretendentes, é o pretendente que mata Ulisses/Ringo. Só após a morte Ringo reconquista realmente a mulher e o filho; o final, com o “tell him Mrs. Ringo is here”, muito lembra o “I am Mrs. Norman Maine” do “A Star Is Born”.
Henry King é um cineasta que fomos descobrindo aos poucos, ao longo dos anos, pelo menos a sua obra após 1935 – dos mudos só “Tol’able David” foi visto.
Acho que o primeiro filme que vi foi o famosíssimo melodrama “Love is a Many Splendored Thing”, cá chamado “A Colina da Saudade”, com William Holden e Jennifer Jones a cores e em scope em terras do Oriente. Gosto muito, muito deste filme.
Vi depois “The Sun Also Rises”, algo falhada adaptação de Hemingway, tal como a adaptação de Fitzgerald em “Tender is the Night” (que é exibido hoje); melhor me pareceu “The Snows of Kilimanjaro”, que só vi em TV e quero rever.
De “Carousel” só vi meia hora, depois saí, tão mau me pareceu – sobretudo pelos actores/cantores/bailarinos que me pareceram insuportáveis. Mas quero dar segunda oportunidade ao filme – nesse dia tinha visto já as outras duas versões da mesma história, a de Borzage e o “Lilliom” de Lang, e admito que o cansaço tivesse sido mais forte que eu.
Ainda vi o menor mas interessante “ ABell for Adano”; vi em vídeo, gostei mas lembro-me mal, “Ramona” e “Alexander’s Ragtime Band”.
Recentemente vi em DVD o belíssimo Jesse James, mais um western que não o é bem, como “The Gunfighter”; o excelente filme de aviação na 2ª Grande Guerra que é “Twelve O’Clock High”, o divertido “A Yank in the R.A.F.”, e o excelente filme de piratas que é “The Black Swan”, com Tyrone Power e a maravilhosa Maureen O’Hara.
Espero ver tudo o que possa, e agora aguardo ainda com mais expectativa “Beloved Infidel”, único filme de King com a recentemente falecida Deborah Kerr, uma das maiores actrizes de sempre, inesquecível no “Life and Death of Colonel Blimp” e “The Black Narcissus” a ainda em “Tea and Simpathy”.