terça-feira, março 04, 2008

Cinemateca em Março

Isto de ter um blog tem que se lhe diga, sobretudo se se tiver como objectivo, como eu tenho, alguma regularidade de escrita.

Comecei por escrever quase todos os dias, depois passou a uma vez por semana, depois ainda menos… Reparo agora que há um mês que nada escrevo aqui.

Poro outro lado, tinha prometido a mim mesmo começar mensalmente a fazer uma nota sobre a programação da Cinemateca para o mês seguinte – e qté agora nunca o fiz.

Juntei assim estes dois objectivos algo falhados e começo Março com a tal nota sobre a Cinemateca.

Desde já, temos um prato forte e assim como que uma entrada para um prato do mês que vem.

O prato forte á a continuação do ciclo Jacques Rivette, que se iniciou em Fevereiro e termina em Abril. Rivette é talvez o menos conhecido de todos os cineastas da Nouvelle Vague, aquele que tem mais filmes nunca estreados comercialmente entre nós, aquele que mais vezes se aproxima de um cinema quase experimental e mais desafiante para o espectador – até pela duração de alguns filmes. Por tudo isto, é este ciclo uma oportunidade única para o descobrir, e resolver de vez a questão sempre em aberto sobre o seu lugar na Nouvelle Vague e no cinema francês das últimas cinco décadas.

A “entrada” é o início do ciclo André De Toth, este mês apenas com dois filmes americanos, abrindo com o fabuloso “The Day of the Outlaw”, e ainda os cinco filmes da totalmente desconhecida fase húngara. Vamos finalmente perceber o que vale a obra deste húngaro emigrado (tal como Michael Curtiz), do qual até agora apenas vimos poucos filmes, sobretudo westerns dos anos 50, mas também o excelente “House of Wax” com Vincent Price; foi o suficiente para despertar o apetite para o resto. A obra americana de De Toth desenrola-se essencialmente entre 1943 e 1959 – depois disso fez nos anos 60 episódios de séries televisivas e alguns filmes em Itália. Veremos se será uma confirmação ou uma desilusão – mas é destes desafios que se faz o prazer da cinefilia. Nota curiosa – segundo o IMDB, em 1987, vinte anos depois do seu filme anterior, terá co-realizado um “slasher movie” de nome “Terror Night” (aka “Bloody Mobie”) – será que o irão exibir no ciclo?

Na “História Permanente do Cinema”, aos sábados, atenção a “Apache Drums”, um western série B que nunca vi e pouca gente terá visto; “Naked Kiss”, um bom filme de Fuller, com um início de cortar a respiração, embora depois o filme não mantenha o equilíbrio, como aliás acontece frequentemente com este cineasta; a obra-prima absoluta que é “A Estrela Escondia”, do cineasta indiano Ritwik Ghatak; a primeira versão de “Show Boat”, relaizada por James Whale, que não é exibido desde o ciclo dedicado a Whale e que em DVD só existe, creio, em edição brasileira; e “Easy Living”, extraordinária comédia de Mitchell Leisen, com argumento de Preston Sturges (que aliás odiava Leisen e detestou o filme, mas sem razão).

Das “Divas às Matinées”, sessões das 15h30 de 2ª a 6ª, destaco os dois filmes com Clara Bow, “Mantrap”, de Victor Fleming (para quando um ciclo?) e “Children of Divorce”, de Frank Lloyd, ambos filmes que poucos terão visto. E ainda o fabuloso e atípico filme de Hawks, “Today We Live”.

Outros destaques serão “The Honey Pot”, de Mankiewicz, que no ciclo dedicado ao cineasta apareceu numa cópia remontada para televisão; espero que agora a cópia seja no formato correcto; “Unfaithfully Yours”, de Preston Sturges; “Bellissima”, de Visconti; e todos os filmes da homenagem a Robert Rossen, os mais vistos porque são excelentes, os não vistos pelo interesse da descoberta.

Termino chamando a atenção, para quem puder dispor de tempo e paciência, para o documentário monumental sobre o Holocausto, “Shoah”, de Claude Lanzmann, a ser exibido divido por três sessões, dada a sua duração total de cerca de 9 horas.

Vejam o site www.cinemateca.pt para horários e outros detalhes.