segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Cinemateca em Fevereiro

Não é um mês com muitas surpresas, pelo menos para os cinéfilos mais atentos.

Continua o ciclo dedicado a Anthony Mann, com incidência este mês nos filmes negros que antecederam a sua fase mais conhecida. Quem não viu, veja – é tudo bastante bom. E ainda este mês. Já dois westerns, um dos quais o inicial do ciclo com James Stewart, “Winchester 73”; o outro, “The Furies”, a meio caminho da tragédia grega, com a grande Barbara Stanwick e a sua despedida do fora-da-lei mexicano que fora seu irmão, amigo, amante: “Till our eyes next meet”, diz-lhe ela, ele já com a corda ao pescoço.

Continua também o ciclo Clint Eastwood, entrado agora na fase mais conhecida do grande público, os seus filmes mais recentes, que dispensam apresentações. Dos filmes não relaizados por Clint, esses apresentados fora da ordem cronológica, merece chamada especial “Escape from Alcatraz”, o seu último filme como actor dirigido pelo seu mestre Don Siegel; e o filme de Cimino, “Thunderbolt and Lightfoot”, clint ao lado do maior actor americano da sua geração, Jeff Bridges. “Paint Your Wagon” é um musical – tenho muita curiosidade em ver, mas temo o pior, e o nome de Josh Logam na realização só adensa o meu receio, ele que parece ter sido grande no teatro mas que em cinema é habitualmente confrangedor (“Picnic”, por exemplo). Tenho boas recordações de “Tightrope”, que vi no Império na estreia, um bom policial com Clint numa personagem nos antípodas de Harry Callahan. E há ainda um dos “filmes com o macaco”, “Any Which Way You Can”; falta o outro, “Every Each Way But Loose”.

“Finalmente, Naruse!”, chama-se o ciclo dedicado ao cineasta japonês Mikio Naruse, título que não podia ser mais apropriado. Naruse não foi descoberto ao mesmo tempo de Mizogouchi, Ozu, Kurosawa, e só por isso provavelmente o seu nome não aparece mais vezes no panteão dos grandes mestres. Só vi três filmes, um dos quais o mais conhecido e que é exibido este mês, “Quando Uma Mulher Sobe as Escadas”; mas do que vi, arrisco dizer que estaremos perante um cineasta tão grande quanto os maiores do cinema japonês, ou seja, Mizogouci e Ozu (Kurosawa, desculpem-me, não está ao mesmo nível).

Outros filmes a merecerem chamada de atenção:

“Il Conformista”, Bertolucci, há muito não visto.
“The Covered Wagon”, James Cruze, um western mudo muito célebre e creio não visto por cá nos últimos muitos anos.
“The Blackbird”, Tod Browning, uma obra-prima do mudo, pertencente à inquietante e quase sempre genial fase de colaboração de Browning com Lon Chaney, “the man with a thousand faces”.
“Le Fantôme du Moulin Rouge”, René Clair, e os mudos de Clair são a redescobrir, para se perceber se a sua fama nesta altura é hoje ainda justificada – é um caso em aberto, o último que vi era decepcionante.

Todos os filmes que vão passar com Carmen Miranda, muitos deles não vistos – e atenção, para os mais distraídos, a essa obra-prima que é “The Gang’s All Here”, de Busby Berkeley, já fora da Warner, agora a cores e se possível ainda mais delirante, com as coreografias a libertarem-se definitivamente das “leis da física” impostas pelos corpos humanos a dançar e a submeterem-se apenas às “leis do cinema”, montagens feéricas de caleidoscópios impossíveis em cores inacreditáveis, onde Berkeley merece plenamente o que dele disse tantos anos depois Andy Warhol; se há filme de facto que antecipa a “pop-art” é este.

Não é de deixar em claro mais um ciclo dedicado a Bresson – enfim, todos nós já vimos tudo mas é sempre bom rever, e desta vez com um pretexto adicional; haverá a propósito de Bresson (ou a partir de Bresson) uma exposição de Rui Chafes e um livro de João Miguel Fernandes Jorge.

Bons filmes!