terça-feira, julho 01, 2008

Cinemateca em Julho

Como é normal nestes meses de Verão, começam as “Noites na Esplanada”. Para mim não é uma notícia particularmente boa, porque nunca lá vou e porque me reduz três sessões por semana a oferta de filmes (deixa de haver sessões das 21h30 às quintas, sextas e sábados). Este mês sob o título “Pin Ups” temos uma selecção de filmes muito interessante: “The Pin Up Girl”, com Betty Grable, a “pin up” por excelência; “Artists and Models”, um Frank Tashlin com a dupla Jerry Lewis / Dean Martin; “Kiss Them for Me”, um filme de Stanley DOnen com Cary Grant pouco visto, e um outro Donen ainda menos visto, “Bedazzled”; o fabuloso “Roxie Hart”, de William Wellmann; etc, etc – é melhor verem o programa.

No ciclo “Cinemateca: 50 anos” continuam a ser mostrados filmes de entre os muitos que a Cinemateca revelou, a que se acrescenta este mês uma selecção de filmes nunca vistos nesta sala. Atenção a “De Sábado para Domingo”, do checo Gustav Machaty, de quem vi um fabuloso “Erotikon” (não confundir com o de Stiller), e que é também autor do célebre “Extâse” que revelou a futura Heddy Lamarr; “Gueule d’Amour”, de Grémillom com Jean Gabin; “Cielo Negro”, um dos maiores filmes dessa enrome revelação que foi o espanhol Manuel Mur Oti – atenção à sequência final; “Sodoma e Gomorra”, um Curtiz mudo feito ainda na Hungria; “One Foot in Heaven”, de Irving Rapper, autor do excelente “Now, Voyager”; “Goodbye Charlie”, um Minnelli nunca visto; “Pas Sur La Bouche”, o penúltimo filme de Resnais que não estreou por cá; “Seven Footprints to Satan”, filem mudo americano do grande cineasta dinamarquês Benjamin Christensen, de quem vimos “História da Feitiçaria Através dos Tempos”; e “Pearl of the South Pacific”, Allan Dwan nos mares do sul a filmar a muito bela Vriginia Mayo – que só pelo seu papel em “Colorado Territory” de Walsh já merecia um lugar especial na história do Cinema.

Pena que no sub-tema dos “filmes nunca vistos” não haja (não sei se não virá a haver em Setembro ou Outubro) algo de um capítulo do Cinema que tem sido ignorado por cá, embora nos últimos anos tenha vindo a ser descoberto em França e Inglaterra – o cinema asiático “popular” ou de “grande público”, nomeadamente o de Hong Kong dos anos 60, 70 e 80, com produtores e realizadores como os irmãos Shaw, Tsui Hark, Ringo Lam, John Woo.

Continua o ciclo dedicado aos anos 60, com especial interesse a ir para vários filmes da então ainda “Europa de Leste” – da URSS, Checoslováquia, Hungria; garante quem viu que há algumas ideias feitas sobre o cinema desses países que podem ruir, como aliás já tínhamos visto também no excelente ciclo que foi “Gelos e Degelos” sobre o cinema soviético. Para além destes, despertam-me mais curiosidade um dos mais famosos “western spaghetti”, “Django”, de Sergio Corbucci ( o seu “O Grande Silêncio” é uma obra-prima do género) e o filme com os Beatles “A HArd Day’s Night”.

Na “História Permanente do Cinema” continua o desfilar de títulos de enorme interesse e em geral não vistos ou há muito não vistos. “Christmas in Jly”, do grande Preston Sturges, génio da comédia e o mais materialista dos cineastas; “Intruder in the Dust”, Faulkner adaptado por Clarence Brown, não sei, Brown costuma ser um chato, mas há surpresas; “Apenas un Delincuente”, do argentino Hugo Fregonese, de quem o mês passado passou um western série B chamado “Apache Drums” que diz quem viu ser muito bom; “White Shadows of the South Seas”, de W.S. Van Dyke e Robert Flaherty, um bom companheiro provavelmente por antítese para o filme de Dwan; foi este o primeiro filme sonoro exibido em Portugal, no cinema Royal, que na minha adolescência muito frequentei (entre 75 e 77, era já na altura um cinema “de reprise”, hoje é um supermercado, que aliás também já frequentei há uns anos); “Fabiola”, de Alessandro Blasetti, um dos grandes “peplums” da segunda época de ouro do género, os anos 40, embora neste caso já no pós-fascismo; “Bed of Roses”, de Gregory La Cava, acho que não vi no ciclo, e La Cava é sempre de não perder; e “Ludwig II” de um tal Helmut Kaütner, cinema alemão dos anos 50, a década por todos ignorada – mas este mês tem a curiosidade adicional de podermos compará-lo (é uma forma de dizer, não deve haver comparação possível) com o “Ludwig” de Visconti, a ser projectado na sua versão integral de quase 4 horas, naquela que será uma das sessões mais importantes do mês.

Bons filmes!