quarta-feira, novembro 05, 2008

Presidenciais USA

Barack Obama ganhou, como se esperava. E agora vai ter de estar à altura daquilo que todos esperam dele, incluindo muitos que nele não votaram e a generalidade do mundo fora dos EUA: que seja o melhor presidente Americano desde FDR.

A vitória não foi, em termos de votos, tão retumbante como muitos desejavam ou previam. Os últimos números que vi apontavam para cerca de 54% dos votos, contra 46% de McCain. Mas no colégio eleitoral isso traduziu-se numa vantagem esmagadora, reflectindo as vitórias que conseguiu na maioria dos estados, e na maioria dos grandes estados em particular.

O que ressalta no entanto é que os EUA continuam a ser um país assimétrico politicamente. Se em muitos estados o resultado foi equilibrado, vários houve nos quais quer Obama quer McCain conseguiram vitórias esmagadoras, de mais de 60% dos votos, o que diz bem das grandes diferenças que existem ainda entre o Norte e o Sul, as duas costas mais cosmopolitas e politizadas e o Midwest mais rural e tradicionalista. Sebem que se olharmos para os resultados só da Cãmara dos Representantes, vemos que no Leste, seja Norte ou Sul, e na Florida, muitos estados têm grande diversidade política, com muitos representantes dos dois partidos, o que acontece muito menos no Mid-West, West Coast e Texas, mais “monocromáticos”.

Obama, se virmos a mancha azul-vermelha, tem as duas costas (e todos os 13 estados fundadores, parece-me), parte do Mid-West e talvez a Florida, e ainda o Hawai; McCain, tem o resto – o Mid-East, parte do Mid-West, o Sul (os antigos estados confederados) e o Texas, e ainda o Alaska.

Houve por exemplo estados onde Obama conseguiu resultados melhores do que os candidatos do seu partido ao Senado e ao Governo Estadual, o que se pode considerar uma vitória pessoal do agora Presidente Eleito; mas também houve estados onde aconteceu o contrário, o que pode ser resultado do preconceito racial e/ou do “efeito Hillary”.

Vejamos alguns casos curiosos:

- Alaska – é o estado de Sara Palin, pelo que os republicanos conseguiram aqui uma maioria clara que contrasta com o maior equilíbrio nas eleições para o Senado e Câmara.

- Arkansas – Num estado predominantemente Democrata, vitória expressiva de McCain – talvez devido ao “efeito Hillary”, já que este é o estado de Bill Clinton. Mas Obama ainda assim ganha em Little Rock…

- California – vitória esmagadora de Obama. Curiosamente, neste mesmo dia, um referendo sobre o “casamento gay” parece estar a ser vencido pelos que se lhe opõem; enquanto que num referendo tentando impor limites ao direito ao aborto está a ser vencido pelos que se opõem aos ditos limites.

- Colorado – vitória de Obama, no mesmo dia em que um referendo propondo o fim da “affirmative action” está neste momento quase empatado.

- DC –vale como curiosidade; na capital da União, Obama tem 93% dos votos. Pelo menos na vizinhança não terá problemas com lealdade…

- Indiana – Obama poderá vencer, à justa, um estado onde os Republicanos elegem o Governador. Efeito Obama positivo.

- Louisiana – McCain vence claramente, enquanto o candidato Democrata vence para o Senado, num estado equilibrado entre “azuis” e ”vermelhos”. Efeito racial?

- Maine – Estranho estado. Obama vence, os Democratas vencem em todo o estado para a Câmara, mas os Republicanos vencem em todo o estado para o Senado. Poderá ser um caso de popularidade do senador Republicano, não sei.

- Missouri – vitória à justa de McCain, num estado onde os Democratas ganham confortavelmente o Governador e têm bons resultados para a Câmara. Aqui parece haver efeito racial.

- New York – nenhuma surpresa aqui, vitória esmagadora de Obama. Só o listo por ser o estado que é, e porque poderia haver aqui um “efeito Hillary” anti-Obama – que não aconteceu.

- Oregon – Obama ganha claramente onde o candidato Republicano poderá vencer para o Senado, e há equilíbrio nas eleições para a Câmara. Aqui, efeito Obama positivo.

- South Dakota – Aqui há claramente um “efeito anti-Obama”, seja racial ou Hillary. É um estado totalmente Democrata na Câmara; o candidato ao Senado vence claramente; uma proposta de limitação ao direito ao aborto é rejeitada em referendo; e ainda assim McCain ganhou.

- Vermont – vitória esmagadora de Obama, enquanto o candidato Republicano vence também esmagadoramente a eleição para Governador

- West Virginia – McCain vence claramente, enquanto os Democratas ganham de forma esmagadora o Senado e o Governador. Será um típico estado dos chamados “Southern Democrats” – e o efeito racial terá sido decisivo.

A conclusão que tiro é que Obama liderou uma grande “onda Democrata” que se reflectiu nas eleições também realizadas para parte do Senado e Câmara dos Representantes e alguns Governadores. À primeira vista no entanto o efeito anti-Obama ter-lhe-á custado os estados do Arkanasa, Louisiana, Missouri, South Dakota, onde perde apesar dos ganhos do Partido Democrata. Mas por outro lado houve um efeito pró-Obama, parte do qual também poderá ter sido de natureza racial, que lhe deu vitórias “a contra-ciclo” no Colorado, Indiana, Oregon e Vermont.

segunda-feira, novembro 03, 2008

Cinemateca em Novembro

Em Novembro, continuam os ciclos iniciados em Outubro dedicados a Manoel de Oliveira e John Carpenter.

Relativamente a Oliveira, não tenho nada a acrescentar sobre o que já escrevi na nota sobre o mês anterior. Mas em relação a Carpenter gostaria de chamar a atenção para alguns títulos inéditos, que por serem feitos para televisão não foram estreados cá. É o caso de “Someone’s Watching Me”, do filme de skecthes “Body Bags” (com um skecth de Tobe Hooper), e dos recentes episódios para a excelente série de televisão “Masters of Horror” – “Cigarette Burns”, que já vi e de que gosto muito, e “Pro-Life”. Creio que é também inédito cá, mas não tenho a certeza, “In the Mouth of Madness”, este feito para cinema.

Não posso deixar de destacar um filme que é para mim uma absoluta obra-prima, “Starman”. É um filme atípico de Carpenter, cujo ponto de partida é a moda de FC chamemos-lhe “sentimental”, à falta de melhor expressão, iniciada com “E.T.” – por oposição às “space operas” de Star Wars e inferiores derivados. Mas Carpenter esquece quase completamente a matriz FC e dá-nos uma das mais belas histórias de amor impossível do cinema dos últimos muitos anos – já lá vão mais de vinte, e continua insuperável.

Do ciclo “O Cinema à Volta de Cinco Artes…” destaco alguns filmes menos vistos e menos conhecidos. “Die Puppe”, um dos melhores Lubitsch do período alemão. “The Unholly Three” é um dos melhores filmes de Tod Browning, realizador hoje quase esquecido, e um dos grandes papéis de Lon Chaney. “Carnival of Souls”, que não vi, é um filme de culto há vários anos, estou curioso.

Do cinema turco não se me oferece dizer nada, por desconhecimento. Do cineasta egípcio Youssef Chaine, só vi três filmes, todos muito bons, um dos quais passa agora – “Al Massir”; pela amostra, valerá a pena também ver os outros dois que agora serão também exibidos na homenagem a este cineasta recentemente falecido.

Há muito para escolher como habitualmente na “História Permanente do Cinema”, aos sábados. Destaque ainda a confirmar para um dos primeiros filmes com Marlene; um dos melhores Sirk, talvez o meu favoritto, “The Tarnished Angels”; “The Milky Way”, do grande Leo McCarey com Harold Lloyd num papel tardio; o Robinson Crusoe de Buñuel, também pouco visto; o divertido “The Flame of New Orleans”, de René Clair, com Marlene; “I Shot Jesse James” de Fuller, que não vi, a descobrir; “La Fille de L’Eau”, um Renoir mudo de que dizem maravilhas; “You and Me”, um Fritz Lang que creio não passa na Cinemateca desde o ciclo.

Finalmente, nas sessões da tarde dos dias de semana, mais “Divas às Matinées”, onde neste horário completamente impossível para quem trabalha continuam a passar pérolas ,algumas das quais pouco ou nada vistas por cá. Por exemplo: “Reunion in France”, um dos primeiros filmes de Jules Dassin, um filme de propaganda de guerra; “The Lady is Willing”, outra vez Marlene, num filme do grande e esquecido Mitchell Leisen, do qual passaram dois bons filmes em Outubro (aos poucos vamos descobrindo a obra deste grande cineasta); “Raintree County”, de Edward Dmytrik, com Montgomery Clift e Elizabeth Taylor; “Enamorada”, uma obra-prima do melodrama mexicano dos anos 50, de Emilio Fernandez, com Maria Félix; “Bell, Book and Candle”, de Richard Quine, de que eu gosto muito – é o único filme que também reúne o mítico par de “Vertigo”, James Stewart e Kim Novak, num registo completamente diferente; Novak está linda e inquietante como bruxa; e há um plano dela com um gato que muito me faz lembrar o de Leonor Silveira em “Vale Abraão”, trinta anos depois. Ainda “La Vérité”, de CLouzot com Brigitte Bardot, um Aldrich nunca visto, “The Legend of Lylah Clare”, ainda com Kim Novak, e outra raridade, agora de Richard Brooks, “The Flame and The Flesh”, com Lana Turner.

Bons filmes!