SÃO CARLOS, A NOVA TEMPORADA E AS MENTIRAS
Foi anunciada a nova temporada de São Carlos, e há razões para estar satisfeito e para não estar satisfeito, como sempre.
Em primeiro lugar, esta nova gestão começa a mentir, o que não admira dada a tutela que tem. Ou melhor, não mente exactamente, mas também não diz a verdade.
Tinha sido prometido que o Anel ia continuar. Qualquer pessoa de boa fé admite que isto quereria dizer que ia continuar nos mesmos moldes, mesma encenação, mesmo ritmo de um capítulo por temporada. Afinal, não. Nesta temporada não há Anel. O Siegfried parece que será em Outubro de 2008; continua a prometer-se a mesma produção, e continua a prometer-se também que o Anel irá ser apresentado na íntegra. Mas, notem a subtileza, já ninguém diz quando será apresentado o Crepúsculo dos Deuses, e já ninguém garante em voz alta que ainda será a mesma produção de Graham Vick. É claro que eu posso estar a ser paranóico, mas quem mente uma vez mente mais, e eu daqui onde estou vou desconfiando.
A temporada também levou um corte. O número de récitas aumenta, o que me parece correcto, mas o número de óperas diminui. Apesar das contas de Pedro Boléo no Público, que chega à conclusão que o número de óperas se mantém, tal não é exacto. A temporada do ano passado tinha sete óperas encenadas, a deste ano tem cinco. Em ambas as temporadas, há um espectáculo duplo em versão de concerto. É claro que este ano há a Flauta Mágica num espectáculo “para a família”, mas isto não é temporada “core” e não deve contar para comparações.
Também não entendo como se pode cobrar o mesmo preço pelo espectáculo não encenado e pelos espectáculos encenados. Creio que é a primeira vez que acontece, mas não posso jurar. Seja como for, parece-me errado.
Saúda-se o período bastante alargado (uma semana) para venda de assinaturas quer aos antigos quer aos novos assinantes, evitando correrias e apertos.
De qualquer forma, como sempre espero que a temporada seja boa e há motivos de interesse, a começar pela nova ópera de Emanuel Nunes, uma encomenda de Pinamonti; e estou muito expectante relativamente à presença de Elizabete Matos novamente nos nossos palcos para fazer a Tosca. E vamos ver La Clemenza di Tito, que quando foi apresentada no Ciclo Mozart do John Elliot Gardner foi em versão de concerto.
Mas é pobre, muito pobre, para o único Teatro de Ópera de Portugal, uma temporada com cinco óperas encenadas. Sete também era, mas cinco, claro, é pior, muito pior. Em tempos socráticos, a Cultura não é de facto uma prioridade.