Terminou a época futebolística, ou quase, mas para nós terminou mesmo. E foi a decepção que se sabe, nem um título para amostra, pelo segundo ano consecutivo (já sei, o ano passado ganhámos a Supertaça, mas só por piada se pode considerar isso um título ao nível dos que realmente interessam).
É tempo para fazer algum balanço, e revisitar algumas coisas que já escrevi antes.
1 – O plantel
Penso que o plantel que iniciou a época era talvez demasiado numeroso, como referiu o nosso treinador, mas relativamente equilibrado e permitia algumas soluções alternativas interessantes.
No entanto, continuo sem perceber a dispensa no defeso de jogadores como Geovanni e mesmo Manduca. Será que Manu, Paulo Jorge e Marco Ferreira eram melhores? Ou foram os critérios financeiros a sobrepor-se aos desportivos?
Eu sei que é complicado para o Benfica ter jogadores muito bem pagos para serem quase sempre suplentes. Mas por vezes é a existência desses “suplentes de ouro” que pode fazer a diferença num jogo, resolver uma crise pontual. E cada vez mais são esses pormenores que decidem um campeonato, ainda por cima quando os três primeiros acabam separados por dois pontos.(Lembram-se do Bruno Moraes? Quase não jogou, mas contra nós marcou um golo que pode ter valido um título. E o Ronny do SCP? Um golo de livre na única vez que jogou deu-lhes a vitória já não sei aonde, dois pontos preciosos e o 2º lugar)
Em Janeiro acho que a situação piorou. Admito que fosse necessário emagrecer o plantel, mas as opções tomadas não foram as melhores. Mais uma vez, prevaleceu o aspecto financeiro, deixando sair Alcides, vendendo Kikin, dispensando Karyaka e Diego.
A saída de Alcides, que como sabemos cobria duas posições na defesa, e a suspensão de Nuno Assis, que até era titular, não foram cobertas, deixando a equipa com problemas de quantidade de qualidade que se vieram a confirmar com o decorrer da época, quando surgem as lesões prolongadas de Rui Costa, Luisão, Simão, Nuno Gomes.
Apenas a saída de Ricardo Rocha foi colmatada com a entrada de David Luís, mas ainda assim não sem alguma perturbação na qualidade defensiva da equipa, até porque quando David Luís entrou finalmente na equipa já foi para substituir… Luisão, que entretanto se tinha lesionado.
Kikin saiu quando terminou aquilo que foi um normal período de adaptação – não sei se estão à espera que um jogador chegue do México e se revele logo uma estrela. Derlei poderia ter sido uma boa aposta, mas infelizmente foi o que se viu. Karyaka, apesar de irregular, tem qualidade e poderia ser precioso como alternativa de banco quer para a posição 10, quer para segundo avançado, e até interior ou extremo. Sempre seria melhor que não ter ninguém, quando a equipa começou a quebrar fisicamente. E Diego parece estar a fazer uma boa época no Grémio; o que ele não é é trinco, mas mais interior, poderia ter sido o substituto ideal para Katsouranis e atenuado o penoso final de época do grego.
E há jogadores que claramente não são opção mas foram mantidos no plantel – para quê? Marco Ferreira, Beto, Pedro Correia, e mesmo Manu, Paulo Jorge, João Coimbra – teria sido necessário mantê-los a todos? Dois ou três destes seis para cobrir imprevistos teriam chegado, deixando espaço para os que acima mencionei, com maior qualidade. Só que estes são baratos - voltamos ao mesmo.
2 – O treinador
Quando Fernando Santos foi contratado, não fiquei muito feliz. É claro que entre ele e Carlos Queirós, mil vezes ele, mas mesmo assim, a sua história não era uma de grande sucesso e o benfiquismo pode atrapalhar mais do que ajudar, como se viu recentemente com Toni.
Finda a época, os resultados, ou falta deles, confirmaram os meus receios, e da maior parte dos adeptos. Mas…
Acho que FS conseguiu pôr a equipa a jogar frequentemente bom futebol. Levamos 20 jogos sem perder no campeonato, e chegámos aos quartos de final da Taça UEFA, sendo eliminados por uma equipa complicada que foi finalista vencida e não perdeu um único jogo. Só a Taça de Portugal correu efectivamente mal.
O sistema de jogo revelou-se positivo, com apenas um trinco e dois avançados, contra os dois trincos e um avançado que vinham sendo hábito. Uma equipa mais ofensiva, como há muito os adeptos vinham reclamando. Jogadores como Karagounis, Nuno Assis e até Katsouranis beneficiaram deste sistema.
Mesmo Simão, que era para sair e à partida não se encaixaria, ele que é um extremo, foi muito bem adaptado a uma posição de nº 10 volante, continuando a ser como sempre fora o
playmaker da equipa mas agora mais solto, aparecendo no meio, na direita e na esquerda, e até à frente a finalizar. A transição defesa-ataque fica entregue aos outros médios, e quando nessas posições há excelentes jogadores, o esquema funciona. Viva, pois, o esquema de F Santos.
Deve F Santos continuar? Se me garantirem que a alternativa é trazer um treinador de topo mundial, um líder carismático (talvez a característica que mais falta a FS), como Eriksson, Rijkaard, Wenger, Scolari, mesmo Benitez, claro que FS deve sair. Mas se é para vir outro treinador apenas bom, dos muitos que há no mundo, mais vale que fique e prove na segunda época se o seu trabalho é válido ou não.
3 – A próxima época
Considerações para a próxima época:
- precisamos de um defesa direito que seja seguro a defender, ou até mesmo dois; Nelson está um perigo para a equipa, e talvez seja até uma hipótese que ele seja definitivamente adaptado a uma posição de médio-ala ou extremo, porque de facto já provou que defender não é o seu forte;
- o lugar de quarto central parece entregue ao recém-contratado Zoro;
- precisamos de um trinco que possa ser alternativa a Petit;
- os lugares de meio-campo, regressando Nuno Assis, parecem-me bem preenchidos, embora se houver um jogador de qualidade que possa vir, poder-se-á emprestar João Coimbra;
- no ataque, precisamos de dois ponta-de-lança, isto se se confirmarem as saídas de Miccoli (espero que não) e Derlei (espero que sim, se houver melhor alternativa).
E os jogadores que temos emprestados?
- José Fonte- não sei porque se não lhe dá a oportunidade de ser quarto central; será pior que Zoro? Então para que o fomos buscar?
- Diego – parece que está a fazer uma boa época no Grémio, mas não a trinco e sim numa posição de interior; podia ser uma alternativa a Katsouranis, como disse acima;
- Karyaka – agora que saiu, não vejo grande espaço para o regresso;
- Marcel – não sei como se está a portar no Brasil, não tenho opinião;
- Manduca – já foi vendido?
- Karadas – sempre achei o que acho; no nosso futebol, pode ser um suplente precioso para ajudar nalguns jogos; e parece que também faz o lugar de central.
Finalmente, alguns jogadores da Liga portuguesa que poderiam ser interessantes:
- Kamercziak – a sua posição é uma na qual o Benfica está bem servido, pelo que não é uma prioridade; mas tem muita qualidade e poderia preparar a previsível saída de Karagounis e Rui Costa no final da época que vem;
- Andrés Madrid - seria o trinco de que precisamos para não nos preocuparmos tanto com as ausências de Petit, que são felizmente poucas mas dão sempre dores de cabeça;
- Robert Linz e Chmiest – um deles poderia ser o tal avançado possante na área; o polaco não tem tido muitas oportunidades no Braga porque está tapado por Zé Carlos, mas sempre que jogou mostrou qualidade, mais até que o austríaco do Boavista; mas não sei de qualquer deles será melhor do que Karadas, sinceramente;
- Zé Carlos, Daddy, Edgar – um deles poderia ser, salvaguardando as devidas distâncias, o avançado móvel e rápido que substituirá Miccoli
É claro que, no que diz respeito aos avançados, nenhum destes será o “grande avançado” de que precisamos; falo neles apenas numa perspectiva realista, ou seja, os avançados realmente “grandes” custam fortunas, e para contratar barato e desconhecido se calhar mais vale apostar em jogadores portugueses ou já adaptados ao nosso futebol.
E, se possível, tentar apostar em empréstimos com opção de compra; os exemplos de jogadores que parecem excelentes nos “pequenos” e que fracassam quando chegam aos “grandes”, e nomeadamente ao
enorme que somos nós, são muitos – Marcel (era o melhor avançado do campeonato), Wender (o sonho de Peseiro), João Alves (chegou a ir à selecção), Maciel, Marco Ferreira (dois jogadores muito queridos de Mourinho), Alan, Manduca, Léo Lima (estes três foram durante anos o "trio maravilha" do Marítimo), Jorginho (era o melhor nº10 do campeonato), etc, etc, etc, para citar de memória e só dos mais recentes.
E para o ano (futebolístico – no calendário são só dois meses, mas parece uma eternidade; como é triste a vida sem o SLB), para o ano, dizia, renascem todas as esperanças, como sempre.
Glorioso SLB!