quarta-feira, outubro 01, 2008

Cinemateca em Outubro

Em 1988 a Cinemateca dedicou-lhe um ciclo integral, que muitos (se calhar até o próprio) julgariam ser já definitivo ou quase. Afinal, o homem já tinha 80 anos! Vinte anos depois (como em Dumas), ainda por cá anda, já acrescentou mais alguns filmes à sua obra e parece não querer parar por aqui. Obviamente, o destaque do mês tem de ir para o início do ciclo dedicado a Manoel de Oliveira, que será seguramente o primeiro cineasta de todos os tempos a assistir a uma homenagem por ocasião do seu centenário! Só por isso, e por se tratar de um dos maiores cineastas actuais, o destaque é inevitável.
No entanto, os filmes de Oliveira têm passado com regularidade quer na Cinemateca quer em exibição comercial. Portanto, eu destacaria mais ainda a homenagem a Sidney Pollack, recentemente falecido (nem toda a gente pode viver até aos cem anos!). Não é um ciclo integral, mas tem alguns dos seus melhores filmes dos anos 60 e 70, bem como os mais recentes. Para mim, é tudo a ver e/ou rever (enfim, talvez com excepção do “Havana”).
No mesmo ano de Oliveira, mas infelizmente morta prematuramente, nasceu a maior actriz de Cinema de sempre (eu sei, poderá não ser verdade, há a Stanwick, a Hepburn, a Sullavan – mas ela está ao mesmo nível) – Carole Lombard, foi o nome que adoptou. Clark Gable, “The King”, amou-a perdidamente em vida, como todos nós a amamos perdidamente na tela, aquele ar lunático, o olhar irrequieto, quase perdido, belo, muito belo, aquele cabelo, aquele corpo, aquela forma única de se mover e de falar a 100 à hora. O que se perdeu com a sua morte (perdeu o Cinema, perdemos nós) foi algo de único e irrepetível – não há duas estrelas iguais, e o brilho de uma que se extingue é para sempre insubstituível.
Da excelente selecção de filmes dedicados a Carole Lombard, vejem tudo, se puderem. Mas eu destacaria três das maiores comédias de sempre – “Twentieth Century”, de Hawks, “My Man Godfrey”, de La Cava, e “Nothing Sacred”, de Wellman. E, porque nunca vistos, dois filmes do grande e muito esquecido Mitchell Leisen – “Hands Across the Tbale” e “Swinh High Swing Low”.
Neste fantástico mês, inicia-se também um ciclo dedicado a John Carpenter. Numa obra em que tudo é bom, tudo é a ver, chamo a atenção para os menos conhecidos – “Dark Star”, uma comédia de ficção científica feita com pouquíssimos meios mas muita imaginação e humor; e “Elvis”, um biopic de Elvis Presley que vi na Cinemateca há pouco tempo e merece ser visto, com um Kurt Russell que literalmente se transfigura em Elvis, ao ponto de nos esquecermos que é um actor e não ELvis ele próprio quem está no écran.
Da restante programação, nas “Divas às Matinés” há uma selecção de bons filmes, dos quais destacaria os menos vistos “Daisy Kenyon” de Preminger e “L´Évènement le Plus Importaant…” de Jacques Demy.

No ciclo “Não Lugares”, passa um filme pouco conhecido de Michael Haneke chamado “Der Siebente Kontinent”, terá interesse ver. E passa ainda o díptico “Smoking” / “No Smoking” de Alain Resnais, que creio não ser visto desde a estreia.

Na “História Permanente do Cinema”, temos “The Private Affairs of Bel Ami”, o menos visto dos poucos filmes de ALbert Lewin como realizador; “Volcano”, de Willaim Dieterle, o filme com o qual Ana Magnani quis “responder” a Rosselini por este a ter preterido em favor de Ingrid Bergman para “Stromboli” (e Stromboli com Magnani seria sempre um filme radicalmente diferente do Stromboli com Bergman – mas creio que Rossellini decidiu bem); “Heimat”, de Carl Froelich, mais um filme alemão da época nazi, tão mal conhecida ainda em termos cinematográficos, este com a muito grande Zarah Leander; “Invasion USA”, um filme de propaganda anti-comunista dos anos 50 que promete ser delirante, mesmo que não seja mais nada; “La Signora di Tutti”, excelente filme de Ophuls, ofuscado injustamente pela fama de obras como “Liebelei”, “Lola Montès”, etc, mas que é tão bom como os melhores filmes deste cineasta, “THe Great Gabbo”, filme mudo de James Cruze com Eric von Stroheim.
Na “9ª Festa do Cinema Francês”, passa novamente “Ils Étaient Neuf Célibataires”, de Sacha Guitry – e qualquer Guitry é sempre a ver ou rever. Atenção também a “La Traversée de Paris”, de Claude Autant-Lara.
Em “O Que Quero Ver”, passa o remake de Delmer Daves de “Bird of Paradise”, de King Vidor – para ver e comparar com o original, que aliás também será exibido. E “Montparnasse 19”, de Jacques Becker a partir de um projecto e “découpage” de Ophuls, que já passou muitas vezes em tempos na Cinemateca mas creio que há alguns anos anda ausente.
Bons filmes!