sexta-feira, abril 20, 2007

ACABEMOS COM OS FERIADOS!

Num país como o nosso, cujos problemas de produtividade são conhecidos e todas as tentativas de a melhorar bem vindas, eu sugeria acabar com os feriados.

Não, não estou doido. Passo a explicar.

Para a maioria das pessoas, as datas dos feriados e os eventos que as mesmas comemoram não lhes dizem nada, a não ser o prazer de mais um dia de descanso. O que significa que há vários dias por ano em que o país pára sem nenhum proveito específico de ninguém. Isto para além das pontes e tolerâncias de ponto que ainda acrescentam mais lenha a esta fogueira.

O que sugiro eu, então?

Deveríamos manter apenas os feriados cujas datas ainda têm significado para uma parte substancial da população. Seriam o 1 de Janeiro, o dia de Natal, ao qual eu acrescentaria também a véspera, prática já observada por várias empresas, a sexta-feira de Páscoa, o 25 de Abril, o 1 de Maio e o 10 de Junho.

Para que as pessoas não fossem prejudicadas, acrescentaria alguns dias às férias oficiais, de forma a que o número de dias efectivos de descanso permanecesse sensivelmente igual.

Qual a vantagem desta troca?

Para a maioria das pessoas, estas preferirão seguramente acrescentar dias ao habitual período de férias com a família ou, opcionalmente, gozar dias de descanso em dias escolhidos por si e não impostos pelo calendário.

Para a produtividade do país, estes dias de férias, sendo gozados maioritariamente dentro do período oficial, levam a que a quebra de produtividade seja menor. Todos sabemos que entre 1 de Julho e 15 de Setembro Portugal entra em regime de “serviços mínimos”, com excepção das actividades mais sazonais como a hotelaria e outras ligadas ao turismo. Logo, mais uns dias de férias nesta altura vêem o seu efeito negativo na produtividade diluído.

Por outro lado, os dias de férias extra, sejam dentro ou fora do período oficial, nunca serão gozados por toda a gente ao mesmo tempo, e logo nunca terão o mesmo impacto na produtividade geral do país que tem um feriado. E acaba-se de vez com os “feriados escondidos” provocados pelas já referidas “pontes” e “tolerâncias de ponto”.

Será disparate? Não me parece.

segunda-feira, abril 16, 2007

NOTAS SOBRE A GESTÃO DO PLANTEL DO BENFICA

Quase no final da época, proponho-me uma análise da gestão do plantel do Benfica e a influência dessa gestão na carreira da equipa.

1 - Guarda-redes

Nada a assinalar. Ao contrário do ano passado, tivemos toda a época três guarda-redes capazes de serem titulares.

2 – Defesas

Começámos a época com 4 laterais – Nelson, Pedro Correia, Léo e Miguelito – e 4 centrais – Luisão, Ricardo Rocha, Alcides e Anderson – sendo que Alcides também faz o lugar de defesa-direito. Plantel equilibrado.

Só que em Janeiro saíram Ricardo Rocha e Alcides, entrando apenas David Luiz. O plantel desiquilibrou-se porque ficaram apenas 6 defesas para o resto da época (Pedro Correia não parece ser opção) e ainda porque:

- David Luiz precisou de tempo para se adaptar;
- Anderson, em má forma, teve de ser chamado à equipa;
- Alcides era a única alternativa a Nelson para defesa direito, e era também o único defesa central que em altura podia substituir Luisão.

Assumindo que, face à vontade do jogador e aos números apresentados, a saída de R. Rocha não era evitável, e até foi coberta pela entrada de D. Luiz, temos que foi um erro deixar sair Alcides.

3 – Meio-campo

No início da época: Petit, Beto, Diego, Karagounis, Katsouranis, Rui Costa, Nuno Assis, João Coimbra, Karyaka, Simão. Plantel farto.

Em Janeiro, saem Diego e Karyaka, e Nuno Assis é suspenso por doping. Ficam apenas 7 médios para as 4 posições, sendo que dois deles (Beto e J. Coimbra) estão claramente abaixo dos restantes.

Poderia ter sido uma boa decisão manter Karyaka, nem que fosse para jogar de vez em quando e poder dar algum descanso aos titulares. Penso que aqui falou mais alto a parte financeira, já que o russo deve ganhar bem demais para ser apenas um reservista.

4 – Ataque

Aqui começámos com 4 pontas-de-lança, Nuno Gomes, Kikin Fonseca, Mantorras e Miccoli, e três extremos, Manu, Paulo Jorge e Marco Ferreira.

A única alteração foi a troca de Kikin por Derlei em Janeiro. Penso que Kikin foi dispensado numa altura em que tinha acabado a sua fase de adaptação, o que também me parece um erro, por troca com um jogador cuja forma actual levantava legítimas dúvidas.

Penso que poderíamos ter abdicado de um ou dois extremos, uma vez que a equipa raramente joga em 4X3X3, criando espaço no plantel para manter Alcides e Karyaka sem prejudicar o nº de 25 jogadores.

Em resumo:

Em Janeiro, deveriam ter ficado Alcides, Karyaka e Kikin, saindo Marco Ferreira e Manu ou Paulo Jorge, e não entrando Derlei. O resultado final teria sido um plantel mais equilibrado. (Estou novamente a assumir que a saída de R. Rocha não era evitável).

Não vou dizer que perdemos o que já perdemos por causa de erros de gestão de plantel, mas na minha opinião estas três opções menos felizes terão contribuído para a época menos boa. Cada vez mais as vitórias e derrotas se fazem de pormenores.

quarta-feira, abril 11, 2007

A FORMAÇÃO DOS CONDUTORES

Desde há muito que me parece que uma das principais causas dos acidentes rodoviários em Portugal é a falta de qualidade e de civismo dos condutores portugueses, opinião esta que é partilhada curiosamente pela maioria dos portugueses (o que me leva a crer que os portugueses em geral acham que os portugueses em geral conduzem mal – excepto, claro, eles próprios).

Ora, parece-me também a mim, que nem sequer tenho carta de condução e posso portanto ter uma opinião talvez mais distanciada, que uma das causas desta falta de qualidade dos condutores portugueses poderá estar na falta de qualidade do nosso ensino de condução.

Como melhorar isto? A resposta óbvia e necessária é “melhorando a qualidade de ensino”. Muito bem. Por aí estamos todos de acordo. Em geral, as pessoas saem das escolas de condução mal preparadas para os problemas concretos que a condução coloca no dia a dia. Talvez se possa de facto fazer algo quer a nível do ensino quer dos exames que melhore a preparação ministrada.

Mas para além disto?

Há algumas medidas que podem ser tomadas, só que serão sempre muito impopulares porque conduziriam naturalmente a restrições à possibilidade de condução, considerado hoje erradamente um "direito natural" de qualquer um, num país onde o “carro” é um instrumento indispensável de afirmação pessoal e social, isto em todos os níveis da sociedade.

Uma das questões que sempre me fez espécie foi esta de uma pessoa tirar a carta aos 18 anos e ficar desta forma habilitada a conduzir para o resto da vida, ou quase. Isto apesar de em cinquenta ou mais anos que essa pessoa vai conduzir surgirem mudanças radicais nas condições de trânsito, nas regras e sinais, nos próprios veículos.

Proponho que seja obrigatório a cada dez anos de posse da carta de condução a frequência de algumas aulas de reciclagem, cinco a dez, diria, e depois um curto exame de aptidão. Poderiam ser usados os próprios carros dos particulares, caso eles desejassem. Quem chumbasse, teria um ano para poder repetir esse exame mais duas vezes, no máximo. A partir daí, caso não houvesse aproveitamento, fim da carta.

É claro que esta medida provocaria, a ser implementada, uma onda de protestos, se não mesmo uma revolta popular. Mas creio que, a ser implementada, contribuiria para a melhoria do nível de condução.

Outra medida possível, embora esta requeresse algum cuidado e estudo prévio, seria o incentivo por parte do Estado à frequência dos chamados “cursos de condução defensiva”, devidamente reformulados. Embora estes cursos tenham componentes que se destinam sobretudo a torná-los mais “sexy” para um grupo de pessoas que possui bons carros e deseja aprender alguns “truques” normalmente reservados aos pilotos de competição, também incluem a aprendizagem de técnicas úteis de condução em situações limites ou inesperadas, precisamente aquelas nas quais os riscos de acidente aumentam.

Finalmente, proponho uma medida ainda mais impopular: a obrigatoriedade de realização de testes de carácter psicológico previamente à obtenção da carta de condução, para os novos candidatos, e ainda para todos os condutores actuais, impedindo a posse da dita carta a pessoa com perfis potencialmente perigosos.

Tenho dito. Provavelmente ninguém vai pegar nestas minhas ideias e implementá-las; provavelmente ainda bem para mim, porque qualquer dia ainda era atropelado por um condutor irado, ou mesmo vários.

terça-feira, abril 03, 2007

A QUESTÃO DA SEGURANÇA

Nas eleições presidenciais francesas volta a ser central a questão da segurança. E daí ressalta a inabilidade e desconforto da Esquerda em lidar com o tema.

O problema principal é este: como pode a Esquerda incorporar no seu discurso e na sua prática a questão da segurança sem cair no “securitismo” cego tão caro à Direita, sem trair os seus valores de defesa da liberdade e da tolerância, respeitando os direitos fundamentais dos cidadãos num Estado de Direito?

Em primeiro lugar, penso que se deve quebrar a velha dicotomia entre Segurança-defendida-pela-direita e Liberdade-defendida-pela-esquerda. Temos de reconhecer que a segurança é também parte da liberdade, e não sua inimiga, e dentro desta perspectiva diferenciarmo-nos da Direita precisamente propondo políticas que naturalmente garantam uma sem comprometer a outra. E ainda realçar que “segurança” não é só relativa ao crime, mas a vários outros parâmetros da vida de todos nós.

Creio que foi Roosevelt quem definiu um dos parâmetros para a definição de cidadãos livres como sendo aqueles que estão “livres do medo”. E se hoje estamos relativamente livres já do medo de falar, de reunir, de exprimir as nossas ideias, há outros medos que ameaçam a nossa condição de cidadão livres.

O principal creio ser o “medo do desemprego”, ou, para ser mais exacto, o medo de perder os meios de subsistência mínimos para uma vida com dignidade (isto, obviamente, para aqueles que deles já dispõem, felizmente a maioria de nós, portugueses e europeus, infelizmente ainda não todos nós, habitantes do planeta). Perante a possibilidade real de uma pessoa, ou uma família, ficar de um momento para outro sem a possibilidade de assegurar uma existência digna, parece-me que a possibilidade de ser assaltado no metro é relativamente menos preocupante. Mas desta segurança a Direita não fala, e quando fala é para a atacar, em nome da competitividade, do mercado e de todos os pequenos deuses caseiros que nos querem impor.

Outro medo será o “medo da doença”. Em Portugal, estar doente para a maioria das pessoas significa entrar num ciclo infernal de filas de espera, tratamentos inadequados, médicos apressados, hospitais mal equipados, medicamentos caros. Aqui, o papel da sociedade civilizada é a de criar as condições para que todos sem excepção possam ter acesso aos cuidados médicos possíveis, independentemente das suas possibilidades materiais. Mas disto a Direita também não fala, e quando fala é para lamentar a despesa pública com a saúde e louvar os méritos da medicina privada. Méritos que eu não discuto, mas que nunca poderão estar ao alcance de todos em países pobres como o nosso.

Para não me dispersar nem alongar mais, falemos então do “medo do crime”, aquele que geralmente se associa com o tema “segurança”. É um medo legítimo, e a Esquerda deve reconhecê-lo como tal, até porque afecta sobretudo as camadas sociais com menos recursos. Ninguém pode ser livre se vive constantemente com medo de ser assaltado nos transportes públicos, ou no percurso até casa, ou mesmo na sua própria casa. Ou se tem à porta problemas relacionados com tráfico de droga. Se teme pela segurança dos seus filhos na escola. Tudo isto são problemas reais e não se pode deixar à Direita o monopólio da sua denúncia e do combate aos mesmos. Mas também não se pode cair na tentação de pura e simplesmente copiar as habituais soluções da direita sem qualquer sentido crítico (tipicamente mais polícia, mais vigilância, penas mais pesadas, mão dura).

Que fazer, então? Em primeiro lugar, pedagogia. Começar por delimitar o problema, tentar perceber a sua verdadeira dimensão, e desmontar o discurso da paranóia securitária com factos concretos. Explicar às pessoas o que é factual e o que é fabricado com intuitos de propaganda ou sensacionalismo.

Reafirmar a validade das medidas de reinserção social e de criação de condições que tentem eliminar ou minimizar as condições que levam ao crime. Demonstrar a validade de políticas de integração social, nomeadamente de adolescentes e jovens, criando condições para a sua integração em grupos com objectivos socialmente relevantes, seja o desporto escolar, grupos ligados a interesses culturais e recreativos ou outros, que os afastem de gangs e grupos criminosos.

Denunciar sempre a hipocrisia de uma Direita que lamenta e teme o crime mas que defende práticas sociais e económicas que numa sociedade com dificuldades materiais como a nossa só podem conduzir a maior exclusão social e consequentemente a maior crime.

E, finalmente, depois de cumprida a missão pedagógica, sempre explicando que essas são soluções de mal necessário, então adoptar sem vacilar as necessárias medidas de prevenção, combate e castigo. Aumento do policiamento, câmaras de vigilância, captura e castigo de criminosos, sim. Mas também criar na polícia uma cultura de responsabilidade e respeito pelos cidadãos. Reformar as prisões para que não continuem a ser escolas de crime, de onde se sai mais criminoso do que se entra. Estudar e implementar formas de castigo alternativas à prisão, desde as famigeradas pulseiras à prestação de serviço cívico para criminosos que não representem perigo directo.

Resumindo, é preciso demonstrar aos cidadãos que a Esquerda tem perante o “crime” uma atitude não só tão firme como a Direita, mas muito mais abrangente, responsável e eficaz do que esta.