segunda-feira, agosto 27, 2007

UM HECTAR DE MILHO

Não tenho grande simpatia pelos movimentos ecologistas, que me parecem quase todos ou nas mãos de burocratas fundamentalistas zeladores de cartilhas ou nas mãos de miúdos pseudo-radicais, muito pouco informados, sem grande consciência política e absolutamente incapazes de ver para lá do âmbito estrito das causas imediatas que abraçam.

Note-se no entanto que não retiro importância e pertinência a muitas das causas defendidas, sobretudo aquelas que lidam directamente com a qualidade de vida no planeta e sustentabilidade futura da mesma. Mas os movimentos preocupados com a defesa intransigente da mais ínfima espécie de vida do planeta, capazes de tudo porem em causa para salvar um habitat natural de uma ave ou planta, não os apoio nem os compreendo.

Quero também dizer que não posso apoiar acções como as do chamado movimento “Verde Eufémia”, a célebre destruição de um hectar de milho transgénico. Perante esta acção, só me veio à memória a frase de Pasolini sobre os estudantes de Maio de 68; lembram-se, dizia, com alguma razão, “se os filhos da burguesia se podem dar ao luxo de brincar às revoluções, isso está vedado a um filho de camponês que se tenha tornado polícia”.

Para qualquer pessoa política e socialmente consciente, penso que uma das prioridades do mundo actual é erradicar a fome. Esse é o combate mais importante. O que significa, no actual paradigma social e económico, conseguir três coisas: produzir alimentos em quantidade e com o mais baixo custo possível; garantir que esses alimentos não põem em causa a saúde dos seus consumidores; e criar circuitos de distribuição que garantam que os ditos chegam aos consumidores finais a preços também tão baixos quanto possível, ou seja, que o baixo custo na produção se reflecte em vantagens para os mais carenciados e não em lucro para intermediários, distribuidores e retalhistas.

Parece-me que os alimentos transgénicos, desde que cumpram os requisitos cientificamente provados e testados de saúde pública, podem ser parte da solução para este problema, já que permitem de facto aumentar bastante a produção a custo mais baixo que a agricultura tradicional. Combater esta forma de produção de forma irracional em nome de um “ideal de pureza” parece-me uma acção politicamente reaccionária, para chamar as coisas pelos nomes.

Há também lugar no mundo para a agricultura tradicional. Hoje, o Mercado, essa entidade que realmente nos governa, já descobriu lugar para os produtos produzidos dessa forma. Há um “nicho”, na linguagem tecnocrática. Mas não nos iludamos; é mesmo um nicho. Os alimentos originários da “agricultura biológica” e “orgânica” são ainda produzidos em pequena quantidade e a custo mais elevado para o consumidor final (estive há dias num supermercado especializado neste tipo de alimentos e pude comprovar isso mesmo; apesar da pobreza das instalações e da localização periférica do dito, os produtos eram mais caros que os seus congéneres “de massas” que se encontram nos circuitos tradicionais). É um luxo ainda para alguns com mais dinheiro do que a média.

Ou seja, combater formas de produção de baixo custo (desde que, repito, sem problemas para a saúde) e defender como alternativa formas tradicionais sem capacidade para fazer face aos desafios de quantidade e custo que as necessidades de alimentação de milhões de pessoas no mundo exigem, é estar do lado de um modelo social de defesa do “bem-estar” de ocidentais bem colocados na vida contra o objectivo de alimentar milhões que morrem à fome.

É preciso é orientar o combate para garantir que estes alimentos chegam de facto a quem deles precisa, a preço justo, e não são apenas fonte de lucro fácil para alguns. Esse, sim, é o combate importante. O resto é folclore.

sexta-feira, agosto 17, 2007

INÍCIO DE ÉPOCA

Fui convidado para ser um participante regular do blog "Tertúlia Benfiquista", pelo que a partir de agora os meus posts sobre o Glorioso serão publicados lá, com reprodução aqui, como é o caso presente.

Mas vamos ao que interessa.

Como muitos benfiquistas, estou apreensivo. Esta época, lembram-se, parecia ir nascer em grande; íamos manter a estrutura base da equipa, e todos os grandes jogadores, e ainda contratar reforços de qualidade.

O treinador e o presidente asseguravam ainda que não se iria repetir o que acontecera na pré-época de 2006, e que a equipa iria estar fechada no momento de início do estágio. “para que não se volte a deitar fora um mês de trabalho”, asseguravam.

Tudo parecia começar bem. Contratámos Cardozo, Bergessio, Zoro, voltava Manuel Fernandes. A grande equipa estava a caminho.

Depois, foi o que se viu e todos acompanhámos. Eu estava em Espanha quando num noticiário televisivo ouço “el Atlético há fijado a um nuevo jugador, el portugués Simão”, ou algo parecido.

Conclusão: perdemos Simão e Miccoli, os dois melhores jogadores e os dois melhores marcadores da equipa; Manuel Fernandes afinal não ficou; saiu ainda Karagounis, saída cuja repercussão é maior do que se esperava por se somar às restantes. E Anderson, que teve uma época menos boa mas ainda poderia ser útil.

O problema do lateral direito pelos vistos não foi levado muito a sério; à última hora lá desencantaram o Luís Filipe; mais valia termos ficado com o João Pereira.

Começa a época e ainda estamos à espera de quatro jogadores novos. O reforço mais entusiasmante, Di Maria, está lesionado e nem sequer é dada uma previsão para começar a trabalhar, o que quer dizer que antes de Outubro, na melhor das hipóteses, não deverá ser produtivo.

O que podemos esperar desta equipa? Provavelmente teremos de passar por um início de época titubeante, como no ano passado, a menos que Rui Costa repita sistematicamente exibições como a da semana passada.

Lá mais para frente, dependerá do real valor dos reforços e da sua rápida adaptação. Di Maria é um excelente jogador, pelo que se viu no Mundial de sub-20; Cardozo tem muitas qualidades, Bergessio e Adu poderão ser úteis, Zoro parece ser uma boa alternativa para central. Há razões para acreditar que a equipa pode melhorar, a não ser que o potencial dos novos jogadores resulte afinal em nada; mas espero que tal não aconteça.

Outros pontos a ter em atenção, para além do da adaptação dos reforços, são: o lugar de defesa direito, ainda por cima de grande importância num esquema táctico “em losango”, onde não há médios-ala e devem ser os laterais a desempenhar esse papel; a dependência da equipa em relação a Rui Costa; e a falta de jogadores rápidos no ataque, o que limita as acções de contra-ataque e a capacidade de abrir as defesas mais fechadas.

Ou seja; ou Rui Costa faz ainda uma grande época, Di Maria confirma ser um jogador excepcional, e Cardozo marca golos, ou vamos ter problemas sérios.