quinta-feira, maio 15, 2008

Expliquem-me, por favor

Segundo o discurso oficial do poder, seja do Governo ou da Oposição, vai no sentido da prioridade máxima ao combate à corrupção. O PS e o PSD já fizeram saber que retirarão a confiança política a qualquer autarca que seja arguido (só arguido, nem precisa de ser condenado) num processo desta natureza.

É com surpresa e desgosto que vejo que alguns deputados adeptos do FCP decidiram convidar para almoçar o presidente deste clube, que como se sabe é arguido na justiça civil e acima de tudo acaba de ser condenado na justiça desportiva por este mesmo crime.

Ainda por cima, sabe-se como o poder do futebol está intimamente ligado ao poder local, e consequentemente a corrupção no meio futebolístico e no poder autárquico está também muito correlacionada. Neste caso, ainda temos o facto de um dos condenados no mesmo processo ter sido o auto-proclamado major Valentim Loureiro, autarca de Gondomar pelo PSD.

Ainda tivemos direito ao espectáculo deprimente de uma deputada do PS promotora da iniciativa a explicar que estava tudo muito bem, que era apenas uma celebração pelo título conquistado pelo FCP.

Exmos. Senhores Deputados e Deputadas da República presentes no referido almoço: são V. Exas. todos completamente estúpidos, ou pensarão V. Exas. que são estúpidos todos os outros, os que voes elegeram e os que vos não elegeram? Ou serão mesmo cúmplices activos ou passivos dos actos corruptores praticados por este senhor?

Será que não entendem a mensagem que passam aos Portugueses com um acto desta natureza? Será que não vislumbram sequer a enorme hipocrisia em que a partir de agora cai todo o discurso anti-corrupção? Pensam como se sentirão a Procuradora Maria José Morgado, a sua equipa, a PJ, os magistrados, perante um acto que na prática os desconsidera? Não haveria outras formas para efectuarem a vossa (legítima) comemoração do título?

Expliquem-me, por favor. Como cidadão, tenho o direito de pedir contas pelos actos dos meus representantes eleitos.

E deixo aqui um apelo: Deputados Benfiquistas, e mesmo de outras filiação clubísticas, desafio-vos a proporem um voto de censura da AR por esta atitude irresponsável de alguns dos seus membros.

sexta-feira, maio 09, 2008

Bio-Combustíveis

Finalmente são cada vez mais as vozes, incluindo a ONU, que dizem aquilo que para muitos de nós era óbvio há muito.

Num Mundo com dificuldades em garantir alimentos para milhões dos seus habitantes, os bio-combustíveis são uma má ideia, já que implicam o abandono de produtos agrícolas necessários para alimentos e o seu desvio para a produção de combustível.

A talho de foice, lembro que Fidel Castro há muito que tinha já expressado essa opinião. O velhote não está tão mal como muitos pensam.

Desde sempre que desconfiei da entusisástica adesão dos países industrializados a etsa opção, sobretudo da parte de pessoas cuja sinceridade ecológica me levantava sérias dúvidas. Até num programa televisivo dedicado ao “tuning” de automóveis na Califórnia apareceu Arnold Schwarzenegger (esse grande ecologista, como todos sabem) a defender esta opção – sem nunca pôr em causa, claro, os motores de alta potência e alto consumo destes carros. Tudo se explica, afinal: estamos a falar de uma oportunidade de negócio de biliões de dólares, e ninguém a quer perder.

É pena que do lado dos defensores dos bio-combustíveis esteja por exemplo Lula da Silva, mas este está cada vez mais rendido (para dizer assim) aos benefícios da economia de mercado.

Este é um exemplo dos erros a que pode levar o radicalismo ecologista, preocupado apenas e só com as questões ambientais e incapaz de levantar a cabeça para ver o “big Picture” e reflectir um pouco sobre as suas opções.

segunda-feira, maio 05, 2008

Cinemateca em Maio

Não houve grandes surpresas em Abril, a maior terá sido o excelente “None Shall Escape” de De Totth, filme do qual não tínhamos referências. É um filme de propaganda de guerra anti-nazi, que filmado em 1943 encena já o julgamento por um tribunal internacional de um criminoso de guerra nazi, após a vitória dos aliados! Para além deste interessante lado profeticamente optimista, o filme é excelente, graças à realização tensa de De Toth e à interpretação de Alexander Knox.

Knox é um extraordinário actor, que nunca foi um “leading man” (talvez por lhe faltarem atributos físicos para tal). É o marido de Ingrid Bergman em “Europa 51” de Rossellini, mas tirando isso ninguém o tinha visto muito. Graças à proximidade dos ciclos Henry King e De Toth, houve agora em pouco tempo a possibilidade de o ver em quatro filmes e constatar o seu enorme talento – sendo que no mesmo ano deste De Toth fez um papel totalmente antagónico, o de Woodrow Wilson, presidente dos EUA, no filme elegíaco de King.

Referência especial também para outro excelente De Toth, “Slattery’s Hurricane”, com o entretanto falecido Richard Widmark; e o invulgar filme de gangsters “Blood Money”, de Roland Brown.

Em Maio, começa o grande ciclo da temporada: “Eram os Anos 60”, ciclo que terá direito a catálogo e durará até Setembro, com 80 filmes. Estou especialmente curioso com um dos módulos anunciados, que é o de “cinema popular europeu e asiático”, uma vertente habitualmente pouco explorada desta década, e que neste mês nos dará a oportunidade de ver “Le Legioni di Cleópatra” de Vittorio Cottafavi, e “Plein Soleil”, de René Clement. Os restantes filmes a exibir dispensam apresentações, creio, com excepção do documentário “Primary” – mais relevante ainda por nos encontrarmos em tempo de primárias nos EUA:

Termina o ciclo De Toth, mas não tenho referências especiais sobre nenhum dos filmes, a não ser o facto de já ter visto em Abril o “Riding Shotgun”, que vale a pena sobretudo pela sua construção peculiar que faz mais lembrar um “filme negro” que um western, e por uma estética com frequente recurso aos grandes planos, o que é pouco habitual em De Toth e a mim me parece já uma influência da televisão.

No centenário a James Stewart, temos alguns filmes muito célebres e muito vistos, mas nunca é demais chamar a atenção para essa obra-prima absoluta que é “The Mortal Strom”. E eu recomendo ainda “Bell, Book and Candle” de Richard Quine, gilme de que gosto muito e será curioso vê-lo em paralelo com o muito diferente “Vertigo”, já que junta o mesmo par- Stewart e Kim Novak. Entre os filmes menos vistos, à partida o maior interesse vai para “Vivacious Lady” de George Stevens (um cineasta que em comédia fez alguns bons filmes) e “Call Nortthside 777” de Henry Hathaway.

A homenagem a Richard Widmark faz-se com uma pequena e inatacável selecção de bons e excelentes filmes, todos já vistos e sobejamente conhecidos dos cinéfilos.

“Em Busca de Ingmar Bergman” mostra-nos vários filmes pouco ou nada vistos deste cineasta, com especial ênfase para encenações teatrais filmadas para televisão. A ver tudo o que for possível, o que pode não ser fácil dadas as sobreposições com outros filmes de interesse. A cada um de definir as suas prioridades.

Na sempre interessante “História Permanente do Cinema” aos sábados, os meus destaques vão para: “Chicago”, versão muda da história que deu o musical do mesmo nome, depois adaptado ao cinema, e pelo caminho daria ainda a obra-prima de Wellman “Roxie Hart”; “ROmanze In Moll”, mais um filme de um período ainda maldito do cinema, o alemão dos tempos nazis; “Lachenden Erben”, a alegria de ver um Ophuls que nunca vi e creio nunca ter passado na Cinemateca, nem mesmo no ciclo dedicado a este cineasta; e “The Great Missouri Raid”, um western série B de Gordon Douglas, um cineasta quase sempre interessante nesta década de 50.

Para quem possa ver Divas aos dias de semana, chamada de atenção para os filmes de Luigi Comencini e Mauro Bolognini com a Cardinale, e ainda para o muito bom “Blood Alley” de Wellman com Lauren Bacall e John Wayne em apuros na China comunista – o na ingénua e maniqueísta visão que da mesma têm os estúdios americanos da época.

Do Cinema Sérvio, nada sei – com excepção do celebérrimo “Underground”, que aliás também não vi, e do (esse sim vi e até revi há pouco tempo) muito estranho “Sweet Movie” de Dusan Makavejev.

Bons filmes!