Não houve grandes surpresas em Abril, a maior terá sido o excelente “None Shall Escape” de De Totth, filme do qual não tínhamos referências. É um filme de propaganda de guerra anti-nazi, que filmado em 1943 encena já o julgamento por um tribunal internacional de um criminoso de guerra nazi, após a vitória dos aliados! Para além deste interessante lado profeticamente optimista, o filme é excelente, graças à realização tensa de De Toth e à interpretação de Alexander Knox.
Knox é um extraordinário actor, que nunca foi um “leading man” (talvez por lhe faltarem atributos físicos para tal). É o marido de Ingrid Bergman em “Europa 51” de Rossellini, mas tirando isso ninguém o tinha visto muito. Graças à proximidade dos ciclos Henry King e De Toth, houve agora em pouco tempo a possibilidade de o ver em quatro filmes e constatar o seu enorme talento – sendo que no mesmo ano deste De Toth fez um papel totalmente antagónico, o de Woodrow Wilson, presidente dos EUA, no filme elegíaco de King.
Referência especial também para outro excelente De Toth, “Slattery’s Hurricane”, com o entretanto falecido Richard Widmark; e o invulgar filme de gangsters “Blood Money”, de Roland Brown.
Em Maio, começa o grande ciclo da temporada: “Eram os Anos 60”, ciclo que terá direito a catálogo e durará até Setembro, com 80 filmes. Estou especialmente curioso com um dos módulos anunciados, que é o de “cinema popular europeu e asiático”, uma vertente habitualmente pouco explorada desta década, e que neste mês nos dará a oportunidade de ver “Le Legioni di Cleópatra” de Vittorio Cottafavi, e “Plein Soleil”, de René Clement. Os restantes filmes a exibir dispensam apresentações, creio, com excepção do documentário “Primary” – mais relevante ainda por nos encontrarmos em tempo de primárias nos EUA:
Termina o ciclo De Toth, mas não tenho referências especiais sobre nenhum dos filmes, a não ser o facto de já ter visto em Abril o “Riding Shotgun”, que vale a pena sobretudo pela sua construção peculiar que faz mais lembrar um “filme negro” que um western, e por uma estética com frequente recurso aos grandes planos, o que é pouco habitual em De Toth e a mim me parece já uma influência da televisão.
No centenário a James Stewart, temos alguns filmes muito célebres e muito vistos, mas nunca é demais chamar a atenção para essa obra-prima absoluta que é “The Mortal Strom”. E eu recomendo ainda “Bell, Book and Candle” de Richard Quine, gilme de que gosto muito e será curioso vê-lo em paralelo com o muito diferente “Vertigo”, já que junta o mesmo par- Stewart e Kim Novak. Entre os filmes menos vistos, à partida o maior interesse vai para “Vivacious Lady” de George Stevens (um cineasta que em comédia fez alguns bons filmes) e “Call Nortthside 777” de Henry Hathaway.
A homenagem a Richard Widmark faz-se com uma pequena e inatacável selecção de bons e excelentes filmes, todos já vistos e sobejamente conhecidos dos cinéfilos.
“Em Busca de Ingmar Bergman” mostra-nos vários filmes pouco ou nada vistos deste cineasta, com especial ênfase para encenações teatrais filmadas para televisão. A ver tudo o que for possível, o que pode não ser fácil dadas as sobreposições com outros filmes de interesse. A cada um de definir as suas prioridades.
Na sempre interessante “História Permanente do Cinema” aos sábados, os meus destaques vão para: “Chicago”, versão muda da história que deu o musical do mesmo nome, depois adaptado ao cinema, e pelo caminho daria ainda a obra-prima de Wellman “Roxie Hart”; “ROmanze In Moll”, mais um filme de um período ainda maldito do cinema, o alemão dos tempos nazis; “Lachenden Erben”, a alegria de ver um Ophuls que nunca vi e creio nunca ter passado na Cinemateca, nem mesmo no ciclo dedicado a este cineasta; e “The Great Missouri Raid”, um western série B de Gordon Douglas, um cineasta quase sempre interessante nesta década de 50.
Para quem possa ver Divas aos dias de semana, chamada de atenção para os filmes de Luigi Comencini e Mauro Bolognini com a Cardinale, e ainda para o muito bom “Blood Alley” de Wellman com Lauren Bacall e John Wayne em apuros na China comunista – o na ingénua e maniqueísta visão que da mesma têm os estúdios americanos da época.
Do Cinema Sérvio, nada sei – com excepção do celebérrimo “Underground”, que aliás também não vi, e do (esse sim vi e até revi há pouco tempo) muito estranho “Sweet Movie” de Dusan Makavejev.
Bons filmes!