sexta-feira, outubro 22, 2010

Resposta a um texto anti-socialista

Este texto é uma resposta a um texto anti-socialista chamado “uma experiência socialista… em 1931” que anda há algum tempo a circular na net. Fiz o texto inicialmente como resposta via mail à enésima pessoa que me enviou o dito texto.

Segue a minha resposta, primeiro, e depois a reprodução do texto em causa.

Já tinha visto isto. É um texto pobre e falacioso de uma ponta à outra.

Se há princípio base do Socialismo é que toda a gente trabalha e produz, para criar riqueza. Na URSS, os trabalhadores mais produtivos até eram publicamente reconhecidos e condecorados – os “Heróis do Trabalho da URSS”, e até a “Ordem Lenine” nalguns casos.

Recordo que o princípio de distribuição de riqueza definido por Marx na sociedade socialista (não confundir com sociedade comunista, que seria um último estado de abundância e felicidade que como sabemos nunca se atingiu), esse princípio é “de cada um segundo a sua capacidade, a cada um segundo o seu trabalho”. Não conheço nada mais justo – o que é diferente de ser “igualitário” no mau sentido do termo, aquele que o texto lhe dá, em que toda a gente tem a mesma recompensa esforce-se ou não. Igualitário é esforço e mérito igual ser recompensado da mesma forma.

O que não há no Socialismo são mecanismos de acumulação individual de extrema riqueza, que só é possível quando a “recompensa” é totalmente desproporcionada do “esforço”, por via ou da pura exploração do trabalho alheio, conforme teorizado por Marx para a sociedade industrial, ou, mais modernamente, por via do mecanismo de “recompensa do risco”, nomeadamente nos mercados financeiros.

Confunde-se no texto o Socialismo com mecanismos de distribuição de riqueza que por vezes se criam para tentar distribuir mais a riqueza dentro dos sistemas capitalistas. Essas são tentativas bem intencionadas, mas nada têm a ver com Socialismo. É apenas capitalismo com mais impostos sobre a riqueza. E nesse sentido até concordo com as objecções que o texto faz; o que é totalmente falacioso é confundir essas tentativas “socializantes” em regime capitalista com o Socialismo.

De qualquer forma, não me parece que haja ou tenha havido nenhum país do mundo onde por via dessas medidas se verifique que “metade da população não precisa de trabalhar porque descobre que a outra metade irá sustentá-la”. É mais uma extrapolação abusiva e falaciosa.

De resto, qualquer pessoas concordará com a frase “é impossível multiplicar riqueza dividindo-a”. Mais uma vez, isso não tem nada a ver com o tema em discussão, e nunca nenhum teórico do Socialismo defendeu o contrário.

Quanto ao exemplo das notas é uma simplificação abusiva que também me parece não ter nada a ver com uma discussão séria do tema. Logo que se muda o pressuposto dizendo “Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas dos exames.", está-se imediatamente a mudar o terreno da discussão para outro completamente descontextualizado e despropositado para a mesma, porque “notas de exames” não são riqueza, e porque à partida o esquema proposto só poderia levar ao tal resultado de “menor esforço possível”. Nunca nenhum teórico ou prático do Socialismo defendeu uma sociedade de “menor esforço”, a não ser se e quando alguma vez atingíssemos a tal “sociedade de abundância” que isso permitisse.

Finalmente, o que está na base deste texto simplista e pobre é outra falácia – a de que no capitalismo o esforço é sempre recompensado, ou seja, que os melhores e mais esforçados são os que mais e melhor são recompensados, e portanto as desigualdades económicas e sociais seriam justificadas por essa via. Todos nós sabemos que não é assim. Por cada Bill Gates há milhares de Abramovichs; e se calhar muitos outros potenciais “Bill Gates” que pura e simplesmente não tiveram a sorte do seu lado.



TEXTO ORIGINAL


Uma experiência socialista........ em 1931.
Um professor de economia da universidade Texas Tech disse que raramente chumbava um aluno, mas tinha, uma vez, chumbado uma turma inteira. Esta turma em particular tinha insistido que o socialismo realmente funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria rico, tudo seria igualitário e "justo".

O professor então disse, "Ok, vamos fazer uma experiência socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos as vossas notas dos exames."

Todas as notas seriam concedidas com base na média da turma e, portanto seriam "justas". Isto quis dizer que todos receberiam as mesmas notas, o que significou que ninguém chumbaria. Isso também quis dizer, claro, que ninguém receberia 20 valores...
Logo que a média dos primeiros exames foi calculada, todos receberam 12 valores.
Quem estudou com dedicação ficou indignado, pois achou que merecia mais, mas os alunos que não se esforçaram ficaram
muito felizes com o resultado!

Quando o segundo teste foi aplicado, os preguiçosos estudaram ainda menos - eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.
Aqueles que tinham estudado bastante no início resolveram que também eles se deviam aproveitar da media das notas. Portanto, agindo contra os seus principios, eles copiaram os hábitos dos preguiçosos. O resultado, a segunda média dos testes foi 10. Ninguém gostou.

Depois do terceiro teste, a média geral foi um 5. As notas nunca mais voltaram a patamares mais altos, mas as desavenças entre os alunos, procura de culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera das aulas daquela turma. A busca por ' justiça ' dos alunos tinha sido a principal causa das reclamações, inimizades e senso de injustiça que passaram a fazer parte daquela turma. No fim de contas, ninguém queria mais estudar para beneficiar os outros. Portanto, todos os alunos chumbaram... Para sua total surpresa.

O professor explicou que a experiência socialista tinha falhado porque ela era baseada no menor esforço possível da parte de seus participantes. Preguiça e mágoas foi o seu resultado. Sempre haveria fracasso na situação a partir da qual a experiência tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", disse, o professor, "o esforço pelo sucesso é grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o governo elimina todas as recompensas ao tirar coisas dos outros sem o seu consentimento para dar a outros que não lutaram por elas, então o fracasso é inevitável."

O pensamento abaixo foi escrito em 1931.

"É impossível levar o pobre à prosperidade através de leis que punem os ricos pela sua prosperidade. Por cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa tem de trabalhar recebendo menos. O governo só pode dar a alguém aquilo que tira de outro alguém.
Quando metade da população descobre de que não precisa de trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação. É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."

Adrian Rogers, 1931